Foto: Reprodução O tema da redação do Enem 2025 — “Perspectivas acerca do envelhecimento na sociedade brasileira” — não poderia ser mais oportuno. Em um país que envelhece em ritmo acelerado, pensar sobre o futuro da longevidade é mais do que um exercício acadêmico: é uma necessidade urgente.
Segundo o IBGE, a população brasileira com 60 anos ou mais cresceu 56% entre 2010 e 2022, atingindo 32,1 milhões de pessoas, o equivalente a 15,6% da população total. E as projeções são ainda mais impressionantes: até 2070, quase 38% dos brasileiros serão idosos. Em 2023, pela primeira vez, os idosos superaram os jovens de 15 a 24 anos em número, marcando uma virada demográfica histórica.
Mas o que isso significa para o Brasil?
O Desafio da Longevidade
A transição demográfica brasileira é uma das mais rápidas do mundo. Enquanto países como França levaram mais de um século para dobrar sua população idosa, o Brasil fará isso em apenas 25 anos. E não estamos preparados.
O envelhecimento traz consigo uma nova cartografia de doenças: Alzheimer, AVC, hipertensão, câncer e demências já lideram as causas de incapacidade entre os idosos. O Sistema Único de Saúde (SUS), embora universal e gratuito, enfrenta dificuldades para acompanhar essa demanda crescente. Faltam profissionais especializados, infraestrutura adequada e políticas públicas que promovam o envelhecimento ativo e saudável.
A Pessoa que Viverá 150 Anos Já Nasceu
Parece ficção científica, mas é ciência. O geneticista David Sinclair, da Universidade de Harvard, afirma que a primeira pessoa que viverá até os 150 anos já nasceu. Pesquisas em reprogramação epigenética — capazes de “resetar” o relógio biológico das células — já mostraram resultados promissores em animais. Os primeiros testes em humanos devem começar em 2026, e até 2035, uma “pílula rejuvenescedora” pode estar disponível.
Mas viver mais exige viver bem. E aqui está o ponto crítico: o Brasil não está preparado para envelhecer com dignidade. A longevidade não pode ser privilégio de poucos. Ela precisa ser um direito garantido por políticas públicas eficazes, infraestrutura acessível e um sistema de saúde que não apenas trate doenças, mas promova qualidade de vida.
Uma Crítica Necessária (e Construtiva)
Nosso sistema de saúde ainda opera de forma reativa, voltado para a urgência e não para a prevenção. O cuidado com o idoso é fragmentado, muitas vezes negligenciado, e sobrecarrega famílias — especialmente mulheres, que assumem o papel de cuidadoras sem apoio institucional.
É preciso repensar o modelo assistencial, investir em atenção primária, centros de convivência, educação gerontológica e tecnologia assistiva. O envelhecimento não é um problema — é uma conquista da humanidade. Mas sem planejamento, pode se tornar um desafio insustentável.
O Futuro é Agora
Se a pessoa que viverá 150 anos já nasceu, ela está entre nós. E talvez esteja lendo esta coluna. O que estamos fazendo hoje para garantir que ela — e todos nós — envelheçamos com saúde, autonomia e dignidade?
O Enem 2025 nos convida a refletir sobre isso. Que essa reflexão não fique apenas no papel, mas inspire ações concretas. Porque o futuro da longevidade começa agora.
Confira na integra e com imagens clicando AQUI.

Saúde em Destaque
Professor e pesquisador do Programa de Pós-Graduação em Ciências da Saúde da UNISUL e da Medicina, com mais de 20 anos de experiência na área da saúde e gestão pública. Foi Secretário Municipal de Saúde, presidente do COSEMS-SC e diretor do CONASEMS. É mestre em Saúde Coletiva, doutor em Ciências Cardiovasculares pela UFRGS e possui MBA em Liderança e Gestão em Saúde pelo Einstein. Atualmente, é diretor executivo do Laboratório Santa Catarina.
Av. Marcolino Martins Cabral, nº 2238 – Sala 02, bairro Vila Moema, CEP 88705-000, Tubarão - SC
Fone: 3192-0919
E-mail: [email protected]