Foto: Reprodução No Brasil, falar em obras públicas é tocar em um dos pontos mais sensíveis da gestão pública. Estradas inacabadas, escolas que nunca abriram as portas e hospitais que viraram ruínas são cenas conhecidas da população. Segundo levantamento do Tribunal de Contas da União (TCU), existem hoje mais de 14 mil obras paralisadas em todo o país, representando bilhões de reais em recursos desperdiçados — valores que poderiam estar transformando realidades, mas acabam soterrados sob camadas de burocracia, má gestão e falta de planejamento.
Os motivos para esse cenário são múltiplos e, muitas vezes, interligados. O primeiro deles está na elaboração deficiente dos projetos básicos. Em muitos casos, obras são iniciadas com projetos incompletos ou tecnicamente frágeis, o que gera revisões, aditivos contratuais e atrasos. Outro ponto crítico é o processo de licitação, que, embora essencial para garantir competitividade e transparência, ainda sofre com falta de clareza nos editais e critérios de julgamento pouco técnicos, abrindo brechas para disputas judiciais e corrupção.
A subestimação de orçamentos é outro vício histórico. Por motivos políticos ou técnicos, muitos projetos são anunciados com valores artificiais, e a conta real aparece depois, em forma de aditivos e novos repasses. Além disso, a fiscalização insuficiente — tanto por parte dos órgãos públicos quanto da sociedade — contribui para que desvios e atrasos passem despercebidos até que seja tarde demais.
Mas o cenário não é irreversível. Existem modelos e tecnologias capazes de transformar a forma como o Brasil planeja e executa suas obras públicas.
A adoção de tecnologias de monitoramento e gestão digital de obras, por exemplo, já é realidade em alguns estados. Plataformas baseadas em BIM (Building Information Modeling) permitem acompanhar em tempo real o andamento físico e financeiro dos projetos, reduzindo desperdícios e aumentando a transparência.
Além disso, a participação social é uma ferramenta poderosa. Cidadãos informados e engajados podem atuar como fiscais indiretos das obras públicas, acompanhando cronogramas, custos e qualidade por meio de portais de transparência ou aplicativos. Quando a sociedade participa, a cultura da impunidade e da ineficiência tende a se enfraquecer.
Obras públicas eficientes são a base do desenvolvimento. Cada escola concluída, cada ponte entregue e cada unidade de saúde em funcionamento representa dignidade, acesso e oportunidade para milhares de pessoas. No entanto, para que isso aconteça, é preciso romper o ciclo da improvisação e investir em planejamento, transparência e inovação.
O Brasil não precisa de mais obras iniciadas — precisa de obras concluídas, bem-feitas e que cumpram sua função social. Quando o interesse público se sobrepõe aos interesses particulares, o resultado aparece nas ruas, nas comunidades e na vida das pessoas. O verdadeiro progresso começa quando o dinheiro público deixa de ser gasto e passa a ser investido com propósito e responsabilidade.

Construção em foco
Antonio Mendes Gazola é engenheiro civil, formado pela Unisul em 2014. Especialista em Engenharia de Segurança do Trabalho (Unicam, 2015) e pós-graduado em Gerenciamento de Obras, Qualidade e Desempenho pelo IPOG (2016). Atuou por cinco anos no serviço público, adquirindo ampla experiência em gestão e fiscalização de obras. Desde 2017, empreende na construção civil, com foco em projetos imobiliários inovadores e na busca por soluções que unam eficiência e qualidade. Atualmente, além de sua atuação empresarial, compartilha conhecimento e reflexões sobre engenharia, habitação e mercado imobiliário em sua coluna semanal, voltada a aproximar o leitor do universo da construção civil de forma prática e acessível.
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