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USP retoma escavações no Jabuticabeira II e investiga sociedades costeiras pré-coloniais

Escavação coordenada por pesquisadores da USP retoma estudos no Sambaqui Jabuticabeira II, em Jaguaruna, um dos sítios arqueológicos mais importantes do país.

Jaguaruna, 10/10/2025 14h52 | Atualizada em 11/10/2025 12h03 | Por: José Demathé
Foto: Divulgação

As escavações arqueológicas no Sambaqui Jabuticabeira II, em Jaguaruna, voltaram a movimentar a região neste mês. Coordenado pela professora Ximena Villagran, do Museu de Arqueologia e Etnologia (MAE) da Universidade de São Paulo (USP), o trabalho integra o projeto “As Sociedades Costeiras do Brasil Pré-Colonial”, financiado pela Fundação de Amparo à Pesquisa do Estado de São Paulo (FAPESP).

O objetivo, explica Ximena, é investigar a diversidade cultural dos povos que habitaram o litoral brasileiro antes da chegada dos colonizadores, e compreender de forma mais profunda como essas sociedades se organizavam, se alimentavam e se relacionavam com o ambiente e com outros grupos do interior.

“O tipo de sítio arqueológico mais frequente e conhecido na costa são os sambaquis, mas por muito tempo a arqueologia tratou essas sociedades como uma unidade cultural. Nosso projeto busca mostrar que há uma diversidade muito maior entre os grupos que ocuparam o litoral”, afirma a pesquisadora.

Um retorno a um sítio emblemático

O Sambaqui Jabuticabeira II é considerado o mais estudado do litoral brasileiro e um verdadeiro laboratório de pesquisa sobre os povos sambaquieiros. O sítio, explica Ximena, já foi escavado entre 1996 e 2006 sob coordenação do professor Paulo De Blasis, também do MAE-USP, e revelou informações essenciais sobre a vida e os costumes das antigas populações costeiras.

“O Jabuticabeira II é um sítio emblemático. Quando anunciamos a retomada das escavações, recebemos um número recorde de voluntários, estudantes e pesquisadores de todo o país. É um privilégio poder voltar a um local tão importante e com o qual tenho uma ligação afetiva, já que fiz meu mestrado aqui, em 2005”, recorda a arqueóloga.

As pesquisas anteriores mostraram que o local funcionava como um grande cemitério monumental, com estimativas de até 43 mil indivíduos sepultados. A densidade de achados humanos e materiais torna o sítio um dos mais ricos do Brasil em termos de informação arqueológica.

O trabalho de campo

As escavações seguem um protocolo detalhado de trabalho de campo, desenvolvido por Ximena Villagran. Segundo o coordenador de campo do projeto, Anderson Tognoli, a escavação ocorre por fácies arqueológicas, definidas pela composição, cor e elementos do sedimento.

“Os registros são realizados em fichas e cadernos de campo. Depois, coletamos o material e encaminhamos para o laboratório, onde começa a curadoria”, explica Tognoli.

A curadoria inclui pesagem, limpeza com água (flotação), secagem natural e checagem de informações de campo, como localização e identificação dos vestígios. Todo material é armazenado em sacos e caixas plásticas, garantindo a preservação para análises posteriores.

Interdisciplinaridade: uma chave para entender o passado

O trabalho no Jabuticabeira II envolve pesquisadores de diferentes áreas, o que permite uma compreensão mais completa do sítio.

“A presença de pesquisadores de áreas distintas contribui de forma significativa para a pesquisa. Especialistas em malacologia identificam as espécies de conchas, enquanto os especialistas em material lítico analisam rochas e minerais usados na confecção de utensílios. Geólogos ajudam a entender a composição do sedimento e a presença de vestígios humanos. Bioarqueólogos estudam ossos humanos, trazendo informações sobre idade, sexo e possíveis paleodoenças”, detalha Tognoli.

O trabalho conjunto permite reconstruir o modo de vida das populações antigas, sua dieta, hábitos e rituais funerários.

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A fauna e os sinais do passado

Entre os pesquisadores está o médico veterinário José Heitzmann Fontenelle, que atua como zooarqueólogo em conjunto com Profa. Daniela Klökler, da UFMG, estudando a fauna presente no sambaqui, principalmente moluscos como ostras, berbigões e caracóis gigantes, não só como resto de alimento mas tambem como remanescente de atividades rituais e festins funerários.

“Eles não coletavam conchas aleatoriamente. Havia uma seleção intencional das espécies para a construção das camadas de conchas. Isso nos ajuda a entender a dieta, a exploração de recursos e até mudanças ambientais ao longo do tempo”, explica Fontenelle.

O estudo da fauna permite reconstruir o paleoclima e a presença de ecossistemas como mangues, que mudaram ao longo dos séculos.

Mistura populacional e genética

Estudos recentes de DNA antigo, liderados pelo Prof. André Strauss, do MAE/USP mostraram que, há cerca de 1.200 anos, já havia mistura entre indivíduos costeiros e grupos do Planalto, refletindo interações complexas entre populações:
“A genética permite entender se houve mistura populacional entre grupos. Nesse caso, detectamos claramente a combinação de genéticas sambaquis e do Planalto, mostrando que o contato entre os povos não foi repentino, mas escalonado”, explica Villagran.

Além da genética, pesquisas com isótopos estáveis e zooarqueologia permitem reconstruir a dieta, revelando os animais consumidos e os rituais associados aos sepultamentos. O estudo dos padrões funerários em campo é conduzido pela Profa. Verônica Wesolowski, do MAE/USP.

Um patrimônio para a comunidade

O Jabuticabeira II não é apenas um ponto de pesquisa científica, mas também um patrimônio histórico:

“O Jabuticabeira II se transformou em um sítio-guia. É a referência que usamos para comparar outras áreas litorâneas. Além disso, contribui para a preservação e valorização do patrimônio arqueológico catarinense, sendo visitado por escolas e pela comunidade local”, afirma Villagran.
A região de Jaguaruna concentra uma densidade inédita de sambaquis monumentais, consolidando-se como um núcleo arqueológico de relevância nacional.

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