Foto: Reprodução Entre tantos roteiros, o escolhido foi aquele que escrevi em pouquíssimo tempo, tudo porque a cena realmente aconteceu.
Em meados de 2018 tranquei a faculdade de Publicidade (depois de um tempo acabei me formando em marketing) e iniciei o curso de Roteiros de Esquetes de Comédia na The Second City - Comedy School, a maior escola de comédia do mundo. Grande parte dos atores do Saturday Night Live e filmes americanos estudaram lá também. O curso, com todos os módulos, daria um ano, iniciei as aula online ao vivo, com o processo de tirar o visto para ir para os EUA finalizar presencial.
Intensivo de inglês e escrita
Bom, como dito, as aulas eram online e ao vivo, não tinha legenda ou qualquer coisa do tipo, era a hora do inglês ir no talo para compreendermos sotaques a nível mundial. Colegas do oriente médio, eua, europa, ásia… Inglês falado em diferentes tons, delicioso, é um desafio. Além das aulas, conforme íamos aprendendo, também tínhamos que escrever muito.
Com um caderninho no bolso, tudo que acontecia eu ia anotando, tudo era ideia para uma piada a ser utilizada na esquete. Ali foi onde aprendi que não existe o “bloqueio criativo” quando você precisa escrever, tem “dias menos criativos”, e são onde usamos a estrutura como muletas para que, mesmo assim, saia uma esquete.
Queda no sistema e pandemia
Em 2019, comecei o processo do Visto americano. Nada barato e aquela burocracia chata. Fomos para Porto Alegre para entrevista no consulado, dormimos no apartamento da minha prima-irmã Fran, e cedinho fomos para o local da entrevista. Calor absurdo, eu de terno, uma telha que tornava o calor pior a ponto de começarem os desmaios, principalmente nos idosos que lá estavam em pé por horas. Depois de tanto esperar? Bom o “sistema caiu”, teria que ser reagendado. No site, pelo menos naquela época, não tinha a opção de remarcar por queda no sistema deles, tínhamos que colocar como se nós quem tivéssemos faltado. Algo ridículo. Esperaria mais alguns meses, juntaria mais um dinheiro… Não estava com todo esse tempo e financeiro.
Bom, depois de uns meses, visto que eu estava em 2019, chegou adivinha? 2020. Com 2020, veio uma pandemia global. Logo, o curso foi inteiro online ao-vivo e até hoje não tirei o visto. Tampouco isso é uma prioridade.
Sobre detalhes do curso rende outra edição, os aprendizados foram enormes, nosso tutor, Keith, era um cara incrível e que me deu dicas até depois de formado.
A esquete mais fácil que escrevi
Não lembro o dia da semana, mas marcamos eu e João, amigo de infância, de nos encontrar na casa do Rafael, nosso querido “Bike”, e o apelido rende outra história, também amigo de infância. Cheguei cedo, estava eu e Bike botando a conversa em dia, pois mesmo na mesma cidade, não é fácil de nos vermos presencialmente.
João chegou depois de um tempo já indignado e desabafando da vida, rimos, pedimos uma pizza e a conversa foi longe, sobre todos os assuntos possíveis. Infância, nostalgia, política, situações municipais, relacionamentos, casamento… Por aí vai. Até chegar a hora de ir embora, e ali estava a esquete pronta.
Eu não sei se era naquela semana, naquele mês, mas, segundo João, TODO DIA alguém estava batendo nele. Até o ponto em que eu e Rafael perguntamos se realmente estavam batendo no carro dele ou ele quem estava batendo nos carros. E ali virou o motivo da piada. João reclamando que as pessoas não sabem dirigir, que só batiam no carro dele e, nós defendendo a tese de que ele estava batendo no carro dos outros. Na hora que João saiu, zoamos falando “vamos te acompanhar para ver se você não bateu no nosso carro”.
Ele não bateu, MAS, e se tivesse?
Em casa escrevi nossos diálogos, mas criando um cenário fictício e exagerando na ficção, criando um passado para o personagem, diferente do real, focados apenas nessa parte do trânsito, encerrando a esquete com ele saindo e batendo no meu carro. Era necessário, além de utilizar piadas nos diálogos, utilizar um final de caberia para o humor de lá, o chamado Punch Line do texto, para encerrar com um impacto. Logo coloco o texto aqui.
O professor depois nos orientou que as esquetes seriam interpretadas em duplas, logo precisavam ser apenas dois personagens, éramos em três, então mesclei eu e o Rafael em um personagem (Pete), enquanto o João seguia sendo John.
A cena não foi como aconteceu, tampouco aquele é o passado real do personagem, mas esse foi um exemplo fortíssimo do que costumo falar diversas vezes: As melhores ideias estão em nosso cotidiano. Outros textos me ralei para escrever, pensar em “ideias maravilhosas”, mas foi em uma pizza, conversando com amigos de infância, que a ideia que foi escolhida veio. E não para qualquer coisa, para ser interpretada em outro país!
Infelizmente, não estava lá presencialmente, tivemos que dirigir online, ao vivo, com o notebook deles virado para o palco. Essa parte é horrível, sem graça, mas a emoção de vermos atores interpretando a esquete foi muito marcante.
VALORIZE E ANOTE AS IDEIAS DO COTIDIANO
Como dito, a ideia veio em um momento “comum”, de encontros do cotidiano. Aí estão as melhores fontes de inspiração. Esses dias comentei sobre, em reunião com uns clientes, a importância de adotarmos alguns pequenos acontecimentos do dia a dia, pois dali podem surgem grandes projetos, das quais o público se identifica, pois esse “ordinário” é a rotina de milhares de pessoas.

Na Próxima Aula
Professor, redator e videomaker. Trabalha na área de pesquisa e educação desde 2014, é autor do livro "Lex Derner: O Arqueólogo do Futuro" e da newsletter sobre cultura e educação Depois do Cafezinho. Quando pode, gosta de gravar dicas literárias.
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