Mesmo com isenções, exportações catarinenses serão duramente afetadas.
O recente aumento de tarifas de comércio imposto pelos Estados Unidos, que elevou as taxas de 10% para 50% em alguns produtos, está gerando grande preocupação em Santa Catarina, especialmente no setor de móveis e madeira. A análise foi realizada por Paulo Bittencourt, economista-chefe da Federação das Indústrias do Estado de Santa Catarina (FIESC).
De acordo com Bittencourt, o setor de madeira e móveis é particularmente sensível à nova política tarifária. Muitas empresas catarinenses têm o mercado americano como seu principal destino, com algumas exportando quase 100% de sua produção para o setor imobiliário dos EUA. O economista prevê que essas empresas enfrentarão dificuldades significativas até que haja uma renegociação e as tarifas se tornem mais "módicas".
Mercado imobiliário americano enfraquecido: fator de risco para Santa Catarina
O cenário de incerteza é agravado por outros fatores econômicos. Bittencourt destaca que o aumento de tarifas nos EUA já foi precedido por um grande volume de importações e, consequentemente, um aumento de estoques no país. A isso se soma a elevação das taxas de juros para financiamento imobiliário, que hoje se encontram em patamares considerados muito altos (6,7%), e a queda contínua nos gastos com construção civil nos EUA, que já se estende por sete a oito meses.
Esses elementos, combinados com a expectativa de renegociação das tarifas, sugerem um mercado imobiliário americano enfraquecido, o que impactará diretamente as exportações do setor madeireiro de Santa Catarina.
Negociação em curso e medidas de mitigação
Apesar do alerta, a FIESC está atuando para diminuir os impactos. O economista informa que estão em andamento negociações para diminuir as tarifas e que medidas de apoio, em parceria com o governo do estado, devem ser anunciadas na próxima semana.
Bittencourt ainda menciona que o dólar tem se desvalorizado globalmente, mas o real brasileiro tem se valorizado de forma acelerada nos últimos dias. Essa valorização se deve à manutenção de juros altos no Brasil, ao contrário da tendência de queda nos EUA. O economista afirmou que essa situação, combinada com o excesso de produtos no mercado, tem levado a uma melhora nas expectativas de inflação para o final do ano e para 2026, o que é visto como um ponto positivo para a economia brasileira.
Isenções não contemplam Santa Catarina
Em relação às isenções tarifárias anunciadas pelos EUA, Bittencourt esclarece que, apesar de muitos produtos terem sido contemplados, a maioria está ligada a itens para aeronaves, como no caso da Embraer. Apenas setores como petróleo, minério de ferro e suco de laranja foram isentos da taxa de 50%. Para Santa Catarina, as exportações do setor de madeira e de outros segmentos importantes, como máquinas e equipamentos, ainda não foram significativamente beneficiadas.
O economista-chefe destaca a investigação da sessão 232, de uma lei de 1962, que dá um prazo a mais que permite negociação. “Então, a gente tem um conjunto grande de produtos de madeira e produtos de aço, porque Santa Catarina exporta para os Estados Unidos, e que não estão submetidos a essa tarifa adicional enquanto durar a investigação. Essas investigações submetidas a 232 ainda devem demorar até dezembro, na melhor da expectativa, e depois ainda tem um tempo para tomada de decisão de Donald Trump. Por que é importante isso? É importante porque a gente tem tempo para continuar a negociação”, ressalta.