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COLUNISTAS

Você lê perto dos seus filhos?

16/08/2025 13h17 | Atualizada em 16/08/2025 13h17 | Por: Pedro Gonçalves

“Os jovens e crianças não gostam mais de ler.”

“Mas você lê na frente deles?”

“Já li muito quando jovem.”

“Não, mas você lê na frente dos jovens?”

“É… na frente dos meus filhos não ando conseguindo ler muito mesmo.”

Hoje não falarei dos adolescentes nem dos comportamentos que vejo nos estudantes. Vou falar do comportamento dos adultos mesmo, sem julgá-los, pois muitas dessas ações, que se tornam naturais, são consequência do nosso amigo celular e de outros fatores que rendem outro artigo.

Esta semana, estava navegando no Substack, portal onde posto crônicas quinzenais na newsletter Depois do Cafezin, falando sobre vivências pontuais, quando me deparei com o post de um rapaz, cujo nome não me recordo, que publicou uma foto de seu pai, cercado de livros, enquanto lia um deles. No texto, o jovem relatou que seu pai era um dos maiores críticos literários do Brasil; nome que também não me lembro, pois sou terrível com nomes e, como acontece quando queremos encontrar algo que vimos no feed, nunca mais achamos… Enfim, a questão é que o pai do rapaz recebia inúmeros livros de autores renomados para escrever críticas, e nunca obrigou o filho a ler.

Note: um homem que vivia da leitura nunca obrigou seu filho a ler, e ainda assim o rapaz tornou-se um leitor e escritor assíduo. Ao final do breve texto, ele diz que começou a ler porque via o pai lendo e se divertindo, e pensou: “Deve ser bom, ele se diverte fazendo isso”, então quis imitá-lo.

No momento em que nossos filhos, sobrinhos ou alunos nos veem mais com celulares nas mãos do que com qualquer outra coisa, nos divertindo com memes aleatórios entregues pelo algoritmo das redes, eles pensarão o mesmo que o rapaz quando criança: “Deve ser bom, eles estão rindo.”

Conheço muitos amigos e familiares que já relataram como liam mais antes, mas hoje, no tempo “vago”, estão com o celular nas mãos. Quando tentam ler novamente, não avançam no livro. Tenho minhas visões e teorias sobre os fatores que geram isso, mas isso rende outras longas conversas e, como citei, penso que muito do que contribui para isso está além do nosso controle.

Contudo, a leitura é um exercício. Como qualquer exercício, precisamos nos forçar quando ainda não está em nossa rotina. E, quando falamos de crianças e jovens, nossa responsabilidade aumenta, pois eles, mesmo inconscientemente, nos observam e nos copiam como referência. A leitura precisa ser assim: temos que nos esforçar para sermos vistos lendo e apresentando a eles o prazer que é ler. Em um mundo com a dependência tecnológica que já nos afeta, assunto tratado em artigos anteriores, precisamos fortalecer esse hábito e ser exemplo.

Quando digo “forçar”, não significa pegar qualquer livro e se obrigar a ler, mas sim dar o primeiro passo de iniciar uma leitura que seja prazerosa para você, algo que atraia sua atenção de maneira genuína.

Já vinha matutando o assunto nas últimas semanas, mas o post do rapaz — de quem me culpo por não lembrar o nome — me tocou profundamente ao falar que nunca foi obrigado a ler, mas começou pela curiosidade ao observar o pai.

Segundo a Retratos da Leitura, considerada a pesquisa mais abrangente sobre o comportamento do leitor brasileiro, 53% da população brasileira não lê. Mais da metade do país! Um dado alarmante, considerando a riqueza cultural do Brasil. Ao ler a pesquisa e perceber o quanto temos dificuldade não só na leitura, mas também na compreensão do que é lido, vejo claramente essa realidade em sala de aula. Alunos imigrantes, como os venezuelanos, muitas vezes apresentam melhor habilidade de leitura.

Como pais, professores e responsáveis, precisamos repensar nossas práticas. Nas aulas, por exemplo, muitas vezes acabamos “obrigando” certas leituras curriculares que, naquele momento, talvez não sejam agradáveis aos alunos, o que pode gerar uma sensação negativa. Porém, quando apresentamos as tramas de forma diferenciada e atrativa, usando uma narrativa que encante, talvez com humor para exemplificar um dilema da obra, a percepção sobre o livro pode mudar. Com essa mudança, quem sabe a curiosidade não desperte, levando-os a pesquisar mais sobre a obra e, posteriormente, a lê-la. Pode não surtir efeito em todos, mas, se despertar o interesse de ao menos um aluno, já será uma vitória.

Afinal, em período de vestibular, com a ansiedade a mil, é natural que interessar-se por determinados livros não seja prioridade.

Entretanto, não podemos desistir. E essa luta para aumentarmos o número de leitores exige autocrítica: precisamos ser exemplo para quem nos observa. “Posso ler mais? Em tal momento, poderia trocar o celular por alguma leitura, mesmo que leve?”. Todos temos rotinas exaustivas, reforço que as mudanças precisam ser tranquilas, mas precisamos reavaliar nossos comportamentos para voltarmos a ser o exemplo que já fomos.

 

Pedro Gonçalves

Na Próxima Aula

Professor, redator e videomaker. Trabalha na área de pesquisa e educação desde 2014, é autor do livro "Lex Derner: O Arqueólogo do Futuro" e da newsletter sobre cultura e educação Depois do Cafezinho. Quando pode, gosta de gravar dicas literárias.

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