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COLUNISTAS

Lavanderias são excelentes lugares para ler

23/09/2025 09h57 | Atualizada em 23/09/2025 09h54 | Por: Pedro Gonçalves

Entre uma lavagem ali e outra secagem aqui, alguns textos são colocados em dia. O que era pontual ganhou frequência nos últimos tempos, inclusive com textos que preciso atualizar para o Mestrado. O ambiente me traz algumas reflexões e percebi que renderia mais um texto.

Em Homem-Aranha 2, de 2004, e percebo agora, ao escrever, que já se passaram 21 anos, uma das cenas que mais me marcaram, entre tantas de um filme tão bonito cinematograficamente, foi a singela imagem de Peter aproveitando para ler poesia enquanto lavava suas roupas.

Nos filmes americanos, era comum vermos lavanderias. Para nós, isso parecia estranho, já que estamos acostumados a ter máquinas em casa. Meu primeiro contato com esse tipo de lavanderia foi em Punta del Este: como os condôminos não tinham máquinas nos apartamentos, havia uma lavanderia coletiva no condomínio. Não sei se cheguei a comentar isso nos textos sobre o Uruguai. De todo modo, essa tendência se espalhou muito pelo Brasil. Aqui em Tubarão, hoje, cada bairro tem algumas, e confesso que usamos bastante.

Temos máquina de lavar, foi um dos primeiros presentes que recebemos ao vir para nossa casa. Contudo, em tempos chuvosos, quando não há como secar as roupas na rua, lavamos em casa e usamos as secadoras dessas lavanderias. Ou, quando a quantidade é grande, lavamos e secamos lá.

Ocorre que são quarenta e cinco minutos para lavar e mais quarenta e cinco para secar. Nesse tempo, você pode colocar a roupa e sair, comer algo, dar umas voltas se for no shopping ou simplesmente ficar ali. E é justamente nesse caso que o ambiente se mostra ideal para ler.

SILÊNCIO INTERCALADO COM HISTÓRIAS

A primeira vez que aproveitei aquele momento para ler, o filme do aracnídeo me veio à mente. Brinco com meu irmão quando vou e levo livros, dizendo: “estou indo dar uma de Peter Parker”. Nessa hora ele já entende para onde vou. O silêncio ajuda a nos concentrarmos, mas nem sempre estamos sozinhos. Chega gente, sai gente, e nessas idas e vindas ouvimos algumas histórias. Gosto disso. Às vezes presto atenção às conversas por curiosidade natural, mas também para me inspirar nos textos.

Tem a idosa que mora sozinha e prefere levar as roupas para lavar, aproveitando para caminhar e conversar com quem estiver por ali. Há os que levam cachorros no colo, os casais recentes em início de namoro, os casais de longa data que chegam rindo de piadas internas e, em um ritmo acostumado, colocam as roupas no cesto quase no automático sem interromper a conversa. Há também aqueles que ficam ali apenas para namorar.
Os perfis são diversos, citei apenas alguns, mas todos me encantam. É uma pluralidade quase poética de vidas que se cruzam diante das estáticas máquinas.

Aproveite o tempo, abra o livro, ligue o Kindle, mas afaste o celular!

Bom, o texto é sobre leitura, então vamos lá. Particularmente, estou sempre com um livro, uma apostila ou o Kindle na mochila; já virou rotina. Contudo, o que mais ouço de conhecidos que reconhecem a necessidade de ler mais é sempre o mesmo argumento: falta de tempo, de espaço, de silêncio. Cada um tem seu ritmo, faz parte. Ainda assim, gosto de sugerir algo simples: afaste o celular. Sei que, em meio a essa rotina acelerada, com demandas e estímulos intensos, não é tarefa fácil. Mas vale o esforço. Aproveite, por exemplo, o tempo de espera em uma livraria ou lavanderia para pôr a leitura em dia.

A ideia do texto me veio na última ida, enquanto estudava o texto “Investigações Filosóficas” de Ludwig Wittgenstein, obra em que o autor discute como o significado das palavras surge do uso cotidiano, e não de definições fixas. Wittgenstein, filósofo austríaco do século XX, apaixonado por matemática e lógica, é considerado um dos maiores pensadores da linguagem. Entendi o texto? Pouco, e só depois de muitas leituras. Precisei ler e reler, afinal ali é alguém usando a lógica para explicar a linguagem. O silêncio foi essencial para que eu conseguisse reler certos parágrafos várias vezes. Talvez em um ambiente com mais estímulos, não ficaria tanto.
 
Não é simples ignorar o celular. Até quem se considera “desconectado” está suscetível ao comportamento quase automático de pegar o celular e mergulhar nos memes que, em segundos, consomem horas. Justamente por isso, é preciso deixá-lo de lado e focar em aproveitar o espaço, o tempo e o silêncio para ler, seja o que for. Resgate algo de que gostava, abra finalmente o livro daquela lista adiada há tempos. Aproveite.

Entretanto, não deixe também de valorizar as cenas do cotidiano que rendem boas reflexões, risos despretensiosos e até conversas corriqueiras com desconhecidos. Esses momentos são importantes, valiosos e reforçam nossa capacidade de comunicação em comunidade, algo que vem se perdendo.

Mas afinal, é para aproveitar o local lendo ou observando o que acontece? É para viver! Leia, mergulhe no ambiente propício, mas também viva, testemunhe a movimentação ao redor. As telas nos entregam tantas visões de mundo, mas, ao mesmo tempo, nos cegam para o que acontece bem diante de nós. Quando possível, é importante valorizarmos esse contraste, cenas cotidianas que nos rendem memórias singelas, mas gostosas, tão qual boas leituras. 
 

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Pedro Gonçalves

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Professor, redator e videomaker. Trabalha na área de pesquisa e educação desde 2014, é autor do livro "Lex Derner: O Arqueólogo do Futuro" e da newsletter sobre cultura e educação Depois do Cafezinho. Quando pode, gosta de gravar dicas literárias.

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