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COLUNISTAS

Imaginar é solucionar problemas com mais leveza

27/06/2025 15h59 | Atualizada em 27/06/2025 15h57 | Por: Pedro Gonçalves
Foto: Divulgação

Na coluna anterior, falei sobre inteligência artificial e seus impactos no aprendizado. Hoje, retomo um ponto que já observava antes do boom do ChatGPT: a urgência de estimularmos o imaginário para desenvolver a capacidade de resolver problemas. 

Quando criança, eu e os amigos criávamos personagens, histórias e contextos. Imaginávamos cenas em nossas brincadeiras, fossem com bonecos ou correndo pelos terrenos. Inclusive, nos pendurávamos em antenas para gritar “Terra à vista!”, imaginando estar em um navio. Na época, parecia só brincadeira. Mas hoje percebo que aquilo ativava um repertório mental riquíssimo, alimentado por filmes, desenhos, quadrinhos e livros. 

Com o tempo, essa habilidade de conectar referências virou uma ferramenta para conversar com diferentes pessoas, o famoso repertório de assuntos. Também passou a ajudar no enfrentamento de situações novas e na busca por soluções criativas, mesmo para problemas simples do dia a dia. Até mesmo para elaborar argumentos quando alguém te questiona algo. E não se limita aos benefícios profissionais, pois essa criatividade ajuda também no cotidiano. Pensar algo novo para casa, resolver um problema doméstico ou bolar uma boa “gambiarra”. 

Há alguns anos, observando meus sobrinhos com seus amigos, comecei a perceber que, por mais animados e brincalhões que fossem, faltava uma amplitude imaginativa nas brincadeiras. Elas eram limitadas. Fiquei observando e, depois, refleti sobre o que consumiam: menos desenhos e filmes, pouca literatura e muito mais jogos. Contudo, os jogos já são bem diferentes dos antigos. Agora são mais realistas e praticamente prontos. Você tem todas as ferramentas ali, sem precisar imaginar além do que o jogo oferece. São filmes jogáveis, com a história definida. (Não diminuo, pelo contrário: é uma indústria que já superou a cinematográfica.) 
 Mas o ponto é que eles jogam, mas não inventam. Reproduzem o que consomem em vez de criar algo novo. A criatividade cede espaço à simulação. 

Na sala de aula, a percepção se repete. Muitos estudantes têm dificuldade em imaginar situações, e não apenas soluções. Quando propomos um cenário fictício, há um bloqueio. A imaginação parece enfraquecida, e isso impacta diretamente a escrita, a oralidade, o raciocínio lógico e até a autoestima acadêmica. 

É por isso que defendo o uso de narrativas, personagens e jogos simbólicos como estratégias pedagógicas. Atividades simples, como propor um cenário X com personagens Y que enfrentam um desafio Z, já exigem que o aluno projete, pense, imagine. E o resultado é sempre surpreendente: apresentações diferentes, soluções criativas, pluralidade de perspectivas. 

A imaginação, acompanhada de referências, é uma aliada poderosa. E aqui destaco a importância da leitura. Ela ajuda na resolução de atividades, na construção de redações, na montagem de apresentações. Em outras palavras, permite enxergar soluções com mais facilidade. A leitura se torna fundamental nesse momento, pois exige a criação dos cenários narrados. Isso é algo único. Por mais semelhantes que sejam as visões de um cenário ou personagem descrito, elas nunca serão 100% iguais entre dois leitores. 

Mas não me limito só aos alunos. Isso vale para todos nós. A imaginação também precisa ser exercitada por quem ensina, sejam educadores ou pais. Devemos buscar formas de transmitir as mensagens com mais criatividade e tornar os conteúdos mais atrativos. Seja por meio de narrativas diferenciadas, da criação de histórias para explicar um processo (uso do storytelling), precisamos trazer esses exemplos para dentro das práticas educativas. 

Atividades básicas, como apresentar um cenário X com personagens Y e pedir que, incorporando esses personagens, os alunos resolvam determinados problemas, já são ótimas metodologias. A simples atividade de se imaginarem naquele papel, em um cenário que exige soluções não pré-determinadas, já os faz pensar em caminhos muito diferentes para resolver um mesmo problema. E o mais interessante é que, nas turmas, acompanhamos essa pluralidade nas múltiplas apresentações. Uma é muito diferente da outra. 

Estamos vivendo uma era de respostas prontas, com pouco espaço para o inusitado. Mas a realidade não é um jogo com caminhos programados. Nossos alunos, filhos e colegas precisam saber criar seus próprios mapas. 
 
E isso começa com algo da nossa natureza: imaginar. 

Pedro Gonçalves

Na Próxima Aula

Professor, redator e videomaker. Trabalha na área de pesquisa e educação desde 2014, é autor do livro "Lex Derner: O Arqueólogo do Futuro" e da newsletter sobre cultura e educação Depois do Cafezinho. Quando pode, gosta de gravar dicas literárias.

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