Tem uma frase muito popular que diz: “o que os olhos não veem o coração não sente”. Me permita agora opinar que para mim, há coisas na vida que mais do que os olhos conseguem “ver”. Experimente por exemplo fechar os olhos e sentar em frente a uma rua movimentada e escutar. Escute o barulho dos carros, o canto dos pássaros, a fala das pessoas, mais a fundo, o som do riacho. Experimente sentir o cheiro: de fumaça, da barraquinha de cachorro quente na esquina, de cidade grande. Se moras em cidade pequena ou na roça sente-se por um segundo em meio a grama, sinta o sol pegando na pele, o vento balançando o cabelo, arrepiando o corpo. Imagine o que está na sua frente. Eu diria que você vê muito mais do que veria com olhos abertos. Eu diria que o cego é o homem mais escritor e mais criativo da história. O cego imagina muito. Vê com ouvidos, nariz, boca e dedos. Vê não a coisa literal mas o inevidente, o obscuro, o enigmático da coisa. Essa coisa que se é praticada com a mesma destreza de quando se lê. Mas eu diria que o cego que lê sem olhos, lê mais que nós de olhos abertos. Ele sente com os dedos e vê com a cabeça, com o coração. Põe a mão no alicerce da coisa e a faz inteira. Pega a cegueira é a transforma em ponte não em muleta.
Por entrelhinhas
Eduarda Barreiros Schotten é estudante de Jornalismo e escritora. Aprofundando-se em temas impactantes da sociedade, por entrelinhas, traz a humanidade ao texto de uma forma poética e as vozes dos marginalizados. Tocando em pontos sensíveis de questões que abalam a atualidade criativamente.