Não é difícil distinguir os privilégios de um e outro nesse mundo fajuto. A infância considero uma delas, se não a mais importante dos privilégios. O privilégio de estudar, de comer, de beber, de brincar.
Mas qual o peso do privilégio quando a fome fala mais alto? Que a desigualdade existe todos sabemos, mas esquecemos mesmo é do tamanho da nossa sorte.
Meninas que vendem o corpo desde cedo, meninos que capinam o mato todas as manhãs, vendem bala na sinaleira, se envolvem no crime, fazem malabarismo. Malabarismo mesmo é o que fazem para dar um jeito na vida, sobreviver, sustentar a família.
No papel a infância é um direito de todos, na prática, a infância é manchada, interrompida, massacrada. Seus destinos são cravados, soterrados, porque a educação não lhes foi oferecida, não lhes foi dado tempo de fantasia, de brincadeira.
Nessas crianças foram esfregadas a realidade crua e nua da vida, sem piedade e arrependimentos. Nessas crianças foram instalados ódio, amargura. É um ciclo vicioso de quem vai ser sorteado, com uma casa de bonecas ou um fuzil que não é de brinquedo.
Difícil mesmo é proporcionar para todos a mesma oportunidade, a mesma realidade. Já que o mundo é fajuto mesmo, basta é que os sortudos agradeçam mais do que os sorteados.
Por entrelhinhas
Eduarda Barreiros Schotten é estudante de Jornalismo e escritora. Aprofundando-se em temas impactantes da sociedade, por entrelinhas, traz a humanidade ao texto de uma forma poética e as vozes dos marginalizados. Tocando em pontos sensíveis de questões que abalam a atualidade criativamente.