Ministério da Saúde confirma 14 ocorrências e inicia distribuição de antídotos a estados; uma morte foi confirmada e outras 12 estão sob investigação
O número de notificações de intoxicação por metanol após o consumo de bebidas alcoólicas adulteradas subiu para 195 em todo o país, conforme balanço atualizado do Ministério da Saúde divulgado neste sábado (4).
Até o momento, 14 casos foram confirmados e 181 seguem em investigação. As primeiras notificações ocorreram em Rio Grande do Sul, Rio de Janeiro e Piauí. O levantamento também registra 13 mortes — uma confirmada e 12 sob análise. O ministério, no entanto, ainda não contabiliza o segundo óbito confirmado pelo governo de São Paulo no mesmo dia.
O que é o metanol e por que ele é perigoso
O metanol é um tipo de álcool utilizado em produtos industriais, como solventes e combustíveis, e não deve ser ingerido por humanos. Ao entrar no organismo, ele é metabolizado pelo fígado e se transforma em compostos tóxicos que atacam o sistema nervoso central, a medula, o fígado e o nervo óptico — podendo causar cegueira, coma e até morte. Casos graves também incluem falência renal e pulmonar.
Governo envia antídotos aos estados
Para reforçar o atendimento médico, o Ministério da Saúde começou a distribuir etanol farmacêutico, utilizado como um dos antídotos contra intoxicação por metanol.
A primeira remessa enviada pelo governo federal contém 580 ampolas, destinadas a cinco estados:
Pernambuco (240 unidades)
Paraná (100)
Bahia (90)
Distrito Federal (90)
Mato Grosso do Sul (60)
Além disso, o ministério firmou contrato para adquirir 2,5 mil doses do medicamento fomepizol, outro antídoto utilizado nesses casos. O lote será importado do Japão e deve chegar ao Brasil na próxima semana.
Vítimas e investigações
As autoridades ainda não divulgaram oficialmente os nomes das vítimas, mas alguns casos foram confirmados por familiares e reportagens de veículos de imprensa.
Rafael Anjos Martins, 28 anos, está em coma desde o dia 1º de setembro, após consumir gin comprado em uma adega da Zona Sul de São Paulo. Poucas horas depois da ingestão, ele passou mal e foi levado ao hospital, onde os exames confirmaram intoxicação por metanol. Amigos que beberam em menor quantidade também apresentaram sintomas como visão embaçada e falta de ar.
A designer de interiores Radharani Domingos, 43, perdeu completamente a visão após tomar três caipirinhas em um bar dos Jardins, também na capital paulista. O estabelecimento foi interditado pela polícia, que apreendeu cerca de 100 garrafas de bebidas destiladas suspeitas de adulteração. Radharani sofreu convulsões, precisou ser intubada e segue em tratamento intensivo.
Outro caso grave é o de Bruna Araújo de Souza, 30, moradora de São Bernardo do Campo (SP). Ela consumiu doses de vodca durante um show de pagode e, no dia seguinte, apresentou sintomas severos de intoxicação. Bruna foi internada em estado grave, e o namorado também apresentou reações após ingerir a mesma bebida.
O advogado e empresário Marcelo Lombardi, 45, é uma das vítimas fatais. Ele comprou uma garrafa de vodca em uma adega no bairro do Sacomã, em São Paulo, e morreu após apresentar cegueira súbita e falência múltipla dos órgãos. O metanol foi apontado como causa da morte em seu atestado.
Outro paciente, Wesley Pereira, 31, segue internado no Hospital do Campo Limpo. Ele ingeriu uísque adulterado em uma festa, entrou em coma e sofreu complicações como pneumonia e AVC durante o tratamento.