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COLUNISTAS

Apenas depois de uma tragédia?

25/06/2025 14h37 | Atualizada em 25/06/2025 15h06 | Por: José Demathé
Foto: Reprodução

Santa Catarina começou a semana em luto. O acidente envolvendo um balão em Praia Grande, que tirou a vida de oito pessoas, é mais um daqueles episódios que nos paralisam, chocam e nos fazem repetir sempre as mesmas perguntas: havia fiscalização? Era seguro? Como deixaram isso acontecer?

O roteiro é conhecido. As manchetes estampam o horror, as redes sociais se enchem de revolta, autoridades aparecem prometendo investigações e mais rigor nas fiscalizações. Mas a verdade é que, passados alguns dias, tudo volta ao normal. A comoção some. E com ela, qualquer debate mais sério sobre segurança e prevenção.

Não é a primeira vez. E, infelizmente, não será a última.

Ainda neste ano, tivemos o acidente no Morro dos Cavalos, na BR‑101 em Palhoça. Um caminhão, uma explosão, imagens fortes e pessoas impactadas. Naquele momento, o país todo falou sobre a urgência de duplicação e melhorias emergenciais. Mas… e agora? Quem ainda está cobrando?

O mesmo aconteceu em agosto do ano passado, com a queda do avião da VoePass em Vinhedo (SP), que deixou 62 mortos. A tragédia gerou questionamentos imediatos sobre manutenção, fiscalização da aviação regional e protocolos de segurança azuis, e houve até suspensão cautelar das operações da empresa em março de 2025 pela ANAC.

Mas, passado o choque, o que restou? A VoePass ainda luta para voltar aos céus, e o tema da segurança na aviação regional continua esquecido pela mídia e pela opinião pública. O debate esfriou. A urgência morreu.

E sem falar é claro, que após tragédias como essa sempre tem aquela pessoa pública ou não que aparece falando algo do tipo: “Voei nesse balão semana passada e realmente não achei seguro; Voei nesse avião semana passada fez alguns barulhos estranhos; Passei nesse prédio e ele realmente estava cheio de falhas estruturais…” e assim por diante. E a pergunta que fica é a seguinte: porque isso não foi denunciado antes?

Essa é a nossa rotina: só debatemos segurança depois que vidas já foram perdidas. Só discutimos fiscalização depois que o pior acontece. A cultura da prevenção nunca vira prioridade. Sempre deixamos para depois, até sermos novamente surpreendidos por aquilo que já era previsível.

 Vamos seguir apenas reagindo às tragédias? Ou vamos, de uma vez por todas, aprender a agir antes que elas aconteçam?

Muito além da Baleia Franca

05/06/2025 16h12 | Atualizada em 05/06/2025 16h14 | Por: José Demathé
Foto: baleiafranca.org.br

Na segunda-feira, mais uma audiência pública sobre a APA da Baleia Franca lotou um salão paroquial em Imbituba. Foi mais uma cena de um debate cada vez mais esclarecedor no litoral sul de Santa Catarina, onde a proteção ambiental virou, injustamente, sinônimo de entrave ao desenvolvimento. De um lado, a necessidade urgente de regularizar comunidades, garantir moradia digna e evitar que famílias vivam à margem da lei. De outro, a importância de preservar um dos últimos redutos naturais da costa sul.

 Já venho acompanhando essa pauta há um tempo, mas o assunto voltou com ainda mais força. E insisto, a Área de Proteção Ambiental da Baleia Franca não é o problema, é parte essencial da solução. O drama de quem vive no Campo Bom, em Jaguaruna, ou em outras comunidades tradicionais da região, é real e urgente. Falta luz, falta segurança jurídica, sobra medo de demolição. Mas culpar a APA é mais uma distorção alimentada por décadas de ausência do poder público, que nunca se dispôs a resolver a regularização fundiária e a criar políticas habitacionais de verdade.


 Na audiência em Jaguaruna, meses atrás, o deputado Volnei Weber comparou a situação local à Faixa de Gaza. O exagero não surpreende. Serve apenas para revelar o nível de tensão e desinformação sobre o que realmente está em jogo.


 A APA, criada em 2000, tem objetivos claros, proteger o ecossistema costeiro e permitir o uso sustentável de seus recursos. Não é um "parque intocável", como alguns propagam. Pelo contrário, permite atividades produtivas, inclusive a pesca artesanal, tão importante para municípios como Imbituba, Garopaba e Laguna. O que ela não tolera é o avanço predatório sobre áreas frágeis, que, sem proteção, desaparecem, levando junto a biodiversidade e a própria segurança das comunidades.


 Quando o mar invadiu Jaguaruna em 2023, ficou evidente, onde havia duna preservada, o avanço foi de 30 cm; onde não, chegou a um metro. É a natureza dando um recado claro. Destruir ou reduzir a APA não vai resolver o problema habitacional e tampouco proteger quem mora ali vai, na verdade, aumentar o risco de tragédias climáticas.


Nesta semana, na audiência em Imbituba, mais uma vez se repetiram discursos inflamados, contrapondo desenvolvimento e conservação, como se fossem opostos. Não são. Como bem disse o biólogo Rodrigo de Freitas, a APA existe justamente para garantir que desenvolvimento e preservação caminhem juntos, sem que um precise eliminar o outro.


 O agrônomo Leandro Fernandes, que vive há quase duas décadas em Garopaba, sintetizou bem: "Nenhum turista quer visitar uma área degradada". E ele tem razão. A proteção dos ecossistemas é também a proteção da economia local, especialmente em cidades que vivem do turismo e da pesca artesanal.


 O caminho? Diálogo sim, mas diálogo honesto. Não o que usa o sofrimento legítimo das comunidades como justificativa para desmontar a proteção ambiental, mas o que reconhece que conservação e justiça social não são opostos, são faces da mesma moeda. Enquanto o litoral sul catarinense debate seu futuro, uma coisa é certa: a APA da Baleia Franca não pode ser o foco do problema. Ela é justamente uma das poucas ferramentas que ainda podem garantir que, no futuro, haja tanto baleias quanto comunidades prosperando nesta costa.


O litoral sul de Santa Catarina está diante de uma encruzilhada: ou escolhe o caminho fácil destruir a proteção ambiental e fingir que assim resolve todos os problemas. Oque já adianto que de nada vai servir pois as comunidades afetadas continuarão irregulares diante das APP e da Lei da Mata Atlântica. Ou encara a difícil, mas necessária, tarefa de construir um modelo que concilie a proteção das baleias, dos marismas, das dunas... e, principalmente, das próprias pessoas que vivem ali. Um possível ponto de partida seria o REURB, mas cabe ao município realiza-lo, oque vai envolver tempo, dinheiro e paciência. 


 A APA não é um obstáculo. É um instrumento. E, como tal, pode e deve ser aperfeiçoado. Só não pode ser desmontado.
 

José Demathé

Além do fato

Jornalista e locutor, apresentador do Jornal Litoral 1ª edição na 90.9 FM. Além do fato tem como objetivo a apuração cuidadosa e contato direto com fontes ligadas aos temas, a proposta é aprofundar os assuntos que impactam a região, indo além do texto pronto dos releases para mostrar o que realmente está por trás de cada pauta.

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