A música sustenta a humanidade em seus momentos mais belos e também é alimento e combustível de esperança em tempos obscuros. E aqui salta uma pergunta: você imagina a vida sem as cores, sabores e humores da música? Tenho a absoluta certeza que não. E na coluna de hoje vou me debruçar num estilo bem particular da música, talvez a sua faceta mais completa e lírica. Falo da música erudita, que por bênção, competência e trabalho árduo de muitos, têm duas representações de peso em Tubarão e região.
Mas quando falamos em música erudita é preciso antes irmos à palavra Erudição, originária do termo latino “eruditione”. Em síntese, é uma instrução vasta e variada, adquirida sobretudo pela leitura e o estudo, direcionada a um conhecimento de cunho acadêmico. Essa música surgiu dentro dos ambientes religiosos do século V, mas passou mesmo a ser escrita e definida em altura, timbre, duração e intensidade cinco séculos depois, no período barroco, quando apartou-se de vez dos cultos religiosos e de outras formas de manifestação artística. Porém, vamos deixar claro uma coisa: há também a erudição popular, tão rica e necessária e que, de alguma forma, está inserida nesse texto e no conceito da vida em sociedade.
No Tudo em Pauta, programa que comando de segunda à sexta-feira na Litoral FM 90.9 e com foco referencial em cultura, fui apresentado a duas expressões sonoras singulares em Tubarão e na região. Me refiro as orquestras Santa Teresinha do Menino Jesus e Fucap Univinte. A primeira, um caso à parte pelo tamanho da sua grandeza musical e também social. Criada em 2011, é fruto da missão de inclusão e transformação social sonhada pelo Padre Edison Müller e lideranças comunitárias, como a já falecida irmã Johana Niemann.
Hoje uma associação formalizada, a Santa Teresinha recebe mais de 100 crianças, adolescentes e jovens tubaronenses que, gratuitamente, aprendem conteúdo musical diferenciado, num processo imensurável de transformação das suas vidas e de seus familiares. Lapidação que também ganha consistência na figura de um músico singular, o maestro Julierme Beckhauser Blasius, um pedagogo sonoro como poucos.
O mesmo maestro que aceitou outro desafio. O de juntar músicos jovens e experientes naquela que pode ser hoje considerada a maior orquestra do sul catarinense e, quero crer, uma das mais competentes do nosso Estado. Trata-se da Orquestra Sinfônica Fucap Univinte, com origem e base no centro acadêmico de Capivari de Baixo e criada em 2023, a partir de um projeto social que originou o Instituto Fucap. A qualidade de seus integrantes e o ecletismo de repertório, que vai do clássico ao popular, despertou olhares e aplausos não apenas nossos, mas de uma figura de respeito no universo da música clássica. O grande regente brasileiro Vinícius Kattah, nada mais nada menos do que o maestro da orquestra que um dia foi comandada por Wolfgang Amadeus Mozart.
Curioso por conhecer a sinfônica que reúne músicos adolescentes e outros na denominada "terceira idade", Kattah – que vive na Áustria e recentemente esteve em Tubarão com a Orquestra Schonbrunn do Palácio Real de Viena, assinou embaixo no que viu. Deu aval para a criação de um Termo de Cooperação entre as orquestras. Documento que, na prática, vai possibilitar aos concertistas brasileiros um salto de qualidade no seu aprendizado.
E aqui fica um apelo deste colunista, dado a tamanha competência dessas duas orquestras, que projetam Tubarão e região no cenário da música erudita nacional e internacional: que as autoridades públicas e o empresariado estejam sensíveis no apoio a essas iniciativas, pois, tratam-se de expressões artísticas únicas. Não oportunizam apenas a formação e apuro musical dos seus integrantes, mas trazem na sua raiz e propósito o melhor da cidadania e o acolhimento às nossas comunidades. Orquestras, portanto, feitas e integradas por gente daqui, motivo de sobra para nos orgulharmos e as chamarmos de nossas.
Tom Belmonte é jornalista, escritor, comunicador de rádio e músico.
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